Guerreira outra vez

Guerreira

Eu ouço.

E, simples assim, com uma só palavra sou roubada do meu cansaço, da minha sobrecarga. Da minha humanidade.

Guerreira. Abaixo a minha cabeça e volto a correr atrás do meu próprio rabo, tentando alcançar o ideal inatingível de produtividade e beleza que é posto diante de mim, como mulher.

Guerreira. Ralando e fazendo mil coisas ao mesmo tempo… com um sorriso no rosto.

Guerreira. Tenho que ser guerreira, como todas as que vieram antes de mim – mãe, avós, bisavós.

Guerreiras, todas elas. Guerreira, eu também.

Guerreira. E na competição em que eu aprendi a viver com as outras mulheres, não posso dizer que não tá bom, não posso reclamar, não posso fazer mimimi. Tenho que ser forte, tenho que dar conta, tenho que fazer e acontecer. Tenho que ser guerreira.

Guerreira. Guerreira não precisa de ajuda. Não pede apoio. Para que cooperação? Eu dou conta. Eu sou guerreira.

Mas eu não dou conta. Estou tão cansada. Quero relaxar, me divertir. Quero viver!

Xiu! silêncio, guerreira. Eles não podem descobrir. Ninguém pode saber. Abaixa a cabeça, morde a língua e vai à luta. Guerreira.

Chega! Chega.

Eu não sou guerreira. Sou uma mulher. Sou um ser humano.

Dói ter limites, mas dói ainda mais desrespeitar os meus limites.

Eu hoje escolho cuidar de mim.

Eu hoje escolho contar a minha verdade.

Porque ninguém neste mundo deveria ter que guerrear para merecer viver.

Um comentário sobre “Guerreira outra vez

  1. cacete! fiquei toda arrepiada. tudo o que eu estou sentindo traduzido num texto. queria muito desejar leveza e tranquilidade pra você (e desejo de coração) mas acima de tudo desejo força(a nós).
    (só queria poder ser frágil e não precisar ser forte o tempo todo)

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